Recentemente eu defendi meu Mestrado em Ciências da Computação na Universidade Federal de Pernambuco. Embora tenha sido um árduo caminho, após a defesa (aprovada) vem uma sensação gratificante.
Neste texto vou tentar explicar um pouco o que é o mestrado profissional e o que eu pesquisei.
O que é um Mestrado?
Um mestrado, ou pós-graduação stricto sensu, é um grau acadêmico concedido por especialistas de uma determinada área de conhecimento a quem demonstra ter saberes suficientes sobre determinado assunto, podendo assim se tornar um Mestre naquela área.
Em se tratando de um mestrado, os conhecimentos devem ser (muito) específicos. Pega-se uma área geral (grande área) e afunila-se até chegar a determinado assunto. Por exemplo: dentro da área de Informática temos a Engenharia de Software. Dentro desta temos os Testes de Software, que possui Testes Caixa Preta e assim sucessivamente. Em um hipotético mestrado nessa área, tamanha deve ser a especificidade que um trabalho deveria ser focado em, por exemplo, aplicar testes de software do tipo caixa preta em determinado sistema, de determinada empresa, por determinado período. É muito específico e é isso que garante a natureza de um mestrado. O estudante deve ser muito bom em uma coisa muito específica.
Pode ser que eu não tenha explicado da melhor maneira possível, mas a essência é essa.
Mestrado Profissional em TI
O mestrado profissional não é muito diferente. As exigências são as mesmas, porém o foco das aulas e, consequentemente, da dissertação (lembrando que para mestrado é dissertação e para doutorado é tese) pode ser algo voltado mais para o mercado de trabalho e menos para a academia.
Contexto e problema
Geralmente os projetos de TI atrasam. E isso quem costuma falar é o Standish Group, através do CHAOS Report, que é um documento elaborado periodicamente que traz estatísticas sobre o atraso em projetos de software – e suas razões.
Basicamente eu utilize uma Revisão Sistemática (explicada abaixo) para entender quais principais fatores que fazem os projetos atrasarem.
Revisão Sistemática
É preciso conhecer tudo o que já foi produzido sobre determinado tema. Para fazer isso de uma forma coerente e planejada, é indicado usar a Revisão Sistemática de Literatura, assim definida por mim no trabalho:
A principal vantagem de se utilizar a Revisão Sistemática da Literatura é que esta propõe uma metodologia bem definida que torna menos provável que os resultados sejam tendenciosos. A revisão sistemática foca em questões de pesquisa bem definidas e de natureza causal (Kitchenham, 2007). Petersen et al (2007) frisam que a revisão sistemática é mais aprofundada do que outras técnicas de revisão bibliográfica e a síntese dos seus resultados foca mais em identificar as melhores práticas e sua efetividade. A Figura [abaixo] ilustra as etapas do processo da Revisão Sistemática da Literatura executado neste trabalho.
Fatores Críticos (Sucesso e Fracasso)
Fatores Críticos é um termo usado para referenciar algumas questões as quais deve-se ter atenção para o desenvolvimento de algum projeto, atividade ou objetivo. Por exemplo: um fator crítico que devemos nos preocupar quando iremos fazer uma longa viagem de carro é ver se tem óleo no motor, ou se o mesmo não está vencido, certo?
É mais ou menos por aí o conceito de FC – Fator Crítico. São fatores que precisam de extrema atenção, pois caso eles sejam subestimados podem trazer consequências não desejáveis. No meu caso, eu pesquisei Fatores Críticos para gestão de tempo em projetos de software. Resumindo, isso significa que eu pesquisei o que pode atrapalhar ou ajudar os projetos de software serem executados dentro do período planejado.
No meu trabalho, tá assim:
Na literatura existem estudos que buscam os motivos para o sucesso ou fracasso dos projetos de software. Estes motivos são chamados de Fatores Críticos (FC), que são tanto de sucesso (Fatores Críticos de Sucesso -FCS) como de fracasso (Fatores Críticos de Fracasso -FCF). Os FCS são os fatores que influenciam de forma benéfica o processo de desenvolvimento do projeto direta ou indiretamente. Quando não aplicados, podem causar falhas no ciclo de vida do projeto de software econsequentemente prejuízo aos clientes e desperdício de recursos, se transformando em um FCF. Assim, conceituam-se os Fatores Críticos de Fracasso como a falta ou a não aplicação correta dos Fatores Críticos de Sucesso, caracterizando-se uma relação antagônica entre eles.
O produto da pesquisa
Ao final da minha dissertação, eu esbocei um pequeno texto que orienta equipes de TI em relação a gestão de tempo dos seus projetos.
É um documento que ainda está em construção, mas você pode acessar a primeira versão aqui.
Você pode acessar o texto completo da minha dissertação aqui.
FAQ
Nossa, acho que nunca conseguirei entrar em um programa de mestrado!
Não pense assim pois você já começa a jornada derrotado. Você que tem vontade de fazer a pós deve tentar sempre, até conseguir. Cada tropeço é aprendizado para a próxima tentativa! No final você vai ver que valeu a pena.
Meu Deus, acho que nunca conseguirei pagar um curso de mestrado!
Existem cursos grátis! E não são tão difíceis de entrar. Pesquise a área que te mais interesse, leia o edital, faça a inscrição e tente! Além disso, existem programas que oferecem bolsas. (Ainda) existem muitas oportunidades no país.
Credo em cruz, acho que nunca conseguirei defender uma dissertação, pois sou muito tímido!
Todo mundo pensa isso e todo mundo fica nervoso pouco antes de apresentar. Mas se eu tenho uma sugestão é: treine exaustivamente sua apresentação. Cronometre o tempo, decore cada slide e simule situações que podem acontecer (queda de luz, esquecer algum conceito). Eu treinei minha apresentação umas duas vezes ao dia por cerca de trinta dias! Isso vai te dar segurança e confiança para apresentar!
Santo Padre! Acho que nunca irei ter nenhum tipo de diferencial no mercado por ter mestrado!
Infelizmente essa é a verdade na maioria dos casos. Um grau de mestre, ou até de doutor, não é muito reconhecido na indústria (termo usado para mercado de trabalho, o que está fora da academia). Faça seu mestrado caso queira seguir carreira acadêmica ou caso queira aperfeiçoamento pessoal. Para mim serviu para as duas coisas.
Alguma outra dica
Defenda sua dissertação, na concepção da palavra. Naquele texto tem dois anos de escrita e leitura, portanto é uma parte da sua vida (e da sua paciência) que está ali. Você tem que defender como se fosse um membro da família. Sempre falo para meus colegas: “se a banca te questionar, defenda suas ideias com firmeza e confiança, obviamente sem ser grosseiro ou desrespeitoso”. Eu sempre sugiro começar assim: “Ótimo questionamento, professor(a). Eu até pensei que isso seria interessante aplicar, de fato; mas eu preferi usar essa abordagem por causa de x, y e z…”.
A banca deve saber que você está apto para defender sua ideia, por mais estranha que pareça no início (obviamente existem pesquisas que não são fundamentadas, e isso seu orientador irá te explicar).
Caso tenha alguma dúvida, comente aqui embaixo.